quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Mesa discute caminhos democráticos para a Comunicação

Logo após a abertura do evento foi realizada a mesa redonda “Democratização e Educomunicação”, dentro da programação da I Semana DEMOCOM. A mesa discutiu e mostrou alternativas para a democratização da mídia e foi composta pela professora Dra. Sandra Raquew, da UFCG, pelo jornalista Rafael Freire, representante do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba e mediada pela professora Dra. Robéria Nádia, do DECOM/UEPB.


Mesa: Educomunicação o Caminho para a Democratização dos meios

Em sua fala, a professora Sandra Raquew, solidarizando com o discurso de abertura do Pró-Reitor Rangel Júnior, destacou a contradição de uma instituição pública de ensino ter tanta dificuldade de obter um serviço de radiodifusão.

Ela refletiu sobre o problema da formação do estudante de Comunicação no sentido de distanciar-se da realidade circundante, que seria reflexo do afastamento entre academia e sociedade. Sandra enfatiza que é necessário uma maior atenção para a práxis no ensino universitário.

Sobre a comunicação, ela acredita que não se deve demonizar os grandes conglomerados de comunicação existentes no Brasil, mas citou que atualmente vive-se um contexto totalizante onde há uma dificuldade de expressão das opiniões em sua diversidade. Para Sandra, é necessário observar e buscar o direito humano à comunicação e que vários grupos atuantes no Brasil e também na Paraíba perseguem este objetivo.


Sandra Raquew (UFCG)
Ao final, a professora destacou ainda que: “há uma apatia dos estudantes de Comunicação de pensar o espaço político em que estão inseridos”, e isto influenciaria diretamente na atividade profissional do jornalista. Ela destacou a importância de observar essa característica, que perpassa a desobrigação do diploma de Jornalismo para exercer a profissão.

Em seguida, Rafael Freire, jornalista e futuro presidente (a ser empossado) do Sindicato de Jornalistas da Paraíba, falou sobre a importância de democratizar a sociedade para que haja a democratização da comunicação e elogiou o fato de se realizar um evento neste sentido, assim como ele havia promovido tantos enquanto era estudante da Universidade Federal da Paraíba. Ele destaca que a Universidade é o espaço apropriado para ocorrer esse debate, a fim de influenciar na democratização da sociedade.

Segundo Rafael, são cerca de 10 grupos que concentram a mídia no Brasil, e que para estes ela tem servido como instrumento de poder. Para ele, mesmo com a grande produção de comunicação individual na internet, não é possível suplantar todo esse poderio midiático, necessitando de um envolvimento político dos estudantes e sindicatos de Jornalismo.

Ele lembrou ainda da participação direta que teve como delegado na I Conferência Nacional de Comunicação. Lá, o jornalista cita que viu de forma “palpável” o enfrentamento direto na votação das propostas entre os grupos ligados à sociedade organizada contra o interesse dos grandes grupos midiáticos. Lembrou ainda da pouca divulgação que está ocorrendo acerca da consulta pública para um marco regulatório, realizada através do site do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação.

O que se Vê na Mídia por ai...

Os dois palestrantes falaram de dois exemplos emblemáticos para contextualizar a atual situação na Comunicação no Brasil. Rafael Freire trouxe o exemplo de programas policialescos televisivos no Nordeste que distorcem o propósito do Jornalismo e que se alimentam da degradação do ser humano.

Ele cita o caso de um apresentador televisivo de Campina Grande que se auto-intitulou jornalista, mas que em um debate em que esteve participando da mesa o próprio ameaçou rasgar o código de Ética do Jornalista Brasileiro. O código traz compromissos do profissional com o Jornalismo Público.

Já a professora Sandra Raquew lembrou o caso de um programa nacional de caráter diversional da TV Bandeirantes, em que o humorista causou polêmica nacional pelo teor humanamente questionável de suas piadas. O humorista ofendeu uma cantora de grande fama, como mulher, o que teria causado a determinação de uma punição da emissora ao profissional. A medida foi apropriada, na opinião da professora. Porém, Sandra lembra que  meses atrás, outra piada no mesmo programa havia ofendido as mulheres de um modo geral e nada foi feito pela emissora.

     Interação com a platéia e alternativas para uma mídia democrática.

O jornalista Rafael Freire respondeu perguntas e concordou com a colocação da mediadora Robéria Nádia, que não se deve tiranizar a mídia. Porém, ressaltou que os meios de comunicação devem ter compromisso com o interesse público e lembrou que a formação universitária do jornalista representa um fato de resistência contra más práticas na mídia.
Rafael Freire


Lembrou que atualmente os profissionais formados em Educomunicação não possuem representação sindical pelo sindicato dos jornalistas. Ele lembrou também de sua experiência no jornal independente “A verdade”, em que participa como editor. Rafael afirma que para realizar este jornal vendido a preço popular, exige-se bastante compromisso pessoal, mas que é necessário insistir para fornecer uma visão mais plural para o jornalismo.

A professora Sandra Raquew, citando Paulo Freire, enfatizou que a Educomunicação não é uma forma de “salvação da humanidade”, mas pode ser um lugar onde haja o estudo de práticas comunicacionais transversalmente com a pedagogia, que contribui para a democratização da comunicação.

Ela comentou ainda que o conceito de jornalismo alternativo hoje é diferente de outras épocas, como por exemplo na década de 60, em plena ditadura militar. Para a professora, é necessário que as pessoas enfrentem os desafios e criem coragem para fazer uma comunicação independente.

Ela informou que se realizará na UFCG, um curso sobre regulamentação da mídia, com Venício Lima. Sandra Raquew citou outra contribuição, agora sobre um exemplo de rádio comunitária, que conheceu no sul do Chile. A professora destacou que diferentemente da visão precária que se tem das rádios comunitárias aqui no Nordeste, o empreendimento era bem diferente. Bem estruturado, com bons equipamentos e profissionais vivendo daquele modelo, ela enfatizou com este exemplo que é possível criar uma comunicação sustentável, democrática e de grande qualidade e importância para a sociedade.


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