segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Cineclube Especial na DEMOCOM


Confira a resenha elaborada especialmente para o nosso Cineclube Especial no dia 06 de Outubro de 2011 no Departamento de Comunicação Social- DECOM a partir das 14h.

Por Alisson Callado

A Montanha dos Sete Abutres (Ace in the Hole)
Direção: Billy Wilder
Elenco: Kirk Douglas, Jan Sterling, Robert Arthur e Porter Hall
Ano: 1951
Genero: Drama, Suspense


Chuck Tatum (Kirk Douglas) não ostenta mais a glória de antigamente. Demitido de seu antigo jornal por má-conduta ética, ele vai tentar a vida novamente como jornalista num pequeno periódico de uma pequena cidade perdida nos confins do oeste norte-americano. Inquieto como todo bom jornalista, Tatum também preserva em seu âmago o lado ruim dessa ânsia pelo seu trabalho, ou seja, a falta de escrúpulos. “Se não houver notícias, eu vou lá fora e mordo um cachorro”, afirma sem pudor ao seu novo patrão. Tatum simplesmente ignora o fato de que notícias não são somente mercadorias.

Contudo, Tatum não quer a glória do anonimato numa pequena cidade, ele quer voltar ao panteão dos Grandes da imprensa. Mas como conseguir isso numa pacata cidade aonde nada acontece?

Até que um dia...

Minosa (Richard Benedict), um caçador de relíquias indígenas fica preso na tal montanha do título e o fato chega aos ouvidos sempre atentos do intrépido Tatum. Vendo na situação uma oportunidade de ouro, Tatum segue até o local e de forma dissimulada vai aos poucos manipulando a situação e todos a sua volta para ficar no controle geral do fato, monopolizando-o para si. Servindo, então, como porta-voz do soterrado Minosa entre a imprensa e a equipe de segurança adiando de forma obliqua o resgate, transformando tudo num grande carnaval sensacionalista que está prestes a fugir do controle.

Não só a imprensa está fazendo a festa com a situação e a demora do resgate, mas também as pessoas se aproveitam do ocorrido para sair lucrando com isto, vendendo suas mercadorias no local. O que, ironicamente, acabam aceitando a notícia como simples mercadoria. No seu conceituado livro “Showrnalismo”, José Arbex Jr. analisou essa tendência de a imprensa transformar tudo em um grande espetáculo, atingindo o espírito do público e das empresas que aproveitavam para lucrar com o ocorrido de alguma forma. O fator humanista simplesmente é posto de lado.

Comparando com um caso recente de sensacionalismo midiático que tomou conta das redações, pode-se usar como exemplo os mineiros chilenos que por meses ficaram soterrados. No dia que emergiram à terra, várias empresas brindaram os mineiros com férias na Disney, viagens com tudo pago para o Hawaii, além de aplicativos para iPhones que estavam sendo vendidos despudoradamente independente de como estava a situação psicológica dos mineiros. Alguns podem alegar que foi um presente de boas-vindas, mas a lógica do marketing estava intensamente trabalhando por trás a fim de promover à marca a custa dos mineiros.

Anos mais tarde Wilder resolveu relançar o filme com outro título que ele achou mais apropriado para a situação, então reentitulado como The Big Carnival.

Certa vez ao tentar definir o espírito do jornalista, sarcasticamente, como é de seu feitio, Millôr Fernandes ratificou que “o jornalista é como um taxista: você paga e ele vai aonde você quiser”. A frase pode não se aplicar a todos, como é sabido, mas não faltam exemplos de profissionais que jogam a ética fora, seja por motivos pessoais ou empresariais, simplesmente em busca da fama e sucesso, ao invés dos fatos ou da verdade em si.

Billy Wilder, cineasta e roteirista naturalizado americano, realiza “A Montanha dos Sete Abutres” logo após ter finalizado sua obra-prima “Crepúsculos dos Deuses”, aonde disseca a decadência de uma antiga diva hollywoodiana. Desta vez Wilder aponta seus holofotes para um decadente jornalista que não aprende com os seus erros, até que seja tarde demais. Conhecido por seus roteiros de diálogos recheados de sarcasmo e ironia, o papel cai como uma luva para o falastrão Kirk Douglas disparar seus petardos impunemente, tais quais “Más notícias vendem mais, porque boas notícias não são notícias” e “Uma boa história hoje; Papel de embrulhar peixe amanhã”. Verdades, que infelizmente são realidades, sejam para o bem ou para o mal. O que nos fica a questionar: somos nós, jornalistas, a apelar para o sensacionalismo por má-fé ou o público que nos incentiva a continuar com esse tipo de cobertura? O inferno são os outros ou o buraco é mais embaixo?

A Montanha não é o primeiro filme nem será o último a apontar a falta de ética do jornalismo. Uma década atrás (1941), Orson Wells fez o clássico Cidadão Kane, baseado nas histórias do magnata americano da mídia William Randolph Hearst. Mais tarde o título serviu como mote para o documentário Muito Além do Cidadão Kane, em que abordava a vida e carreira do falecido dono das Organizações Globo Roberto Marinho.

Engraçado lembrar que Karl Marx pode ter se equivocado em muita coisa sobre sua teoria econômica comunista, mas é impossível não citá-lo quando afirmou que “A história se repete duas vezes: a primeira como tragédia e a segunda como farsa”. Vide o caso recente de Rupert Murdoch, outro magnata da mídia envolvido em problemas nada éticos.

Em 1997, Costa-Gavras resolveu fazer uma pífia releitura da Montanha dos Sete Abutres chamada O Quarto Poder (Mad City), mas sem o mesmo resultado do original.

Gostou?

Assista também:

Profissão: Repórter, de Michelangelo Antonioni;
O Jardineiro Fiel e Cidade de Deus, de Fernando Meirelles;
Repórteres de Guerra, de Steven Miller; Borat, de Sascha Baron Cohen;
O Preço de uma Verdade, de Billy Ray;
Medo e Delírio em Las Vegas, de Terry Gilliam;
Todos os Homens do Presidente, de Alan J. Pakula.


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